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Brasileiros aderem ao home office
O engenheiro mecânico Antônio Torquato, de 51 anos, é um profissional disciplinado. Diretor financeiro da Prati Donaduzzi, de Toledo (PR), trabalha a 1,2 mil km de distância de seus colegas, semana sim, semana não, em São José dos Campos (SP), onde mora a família. Em casa, ele se fecha numa sala e despacha pela internet, como se estivesse no escritório da empresa.
Passa horas grudado ao computador, das 7 da manhã às 7 da noite, com um pequeno intervalo para almoço. Não admite interrupções e os três filhos, de 11, 14 e 16 anos, foram avisados disso quando ele adotou o sistema home office, ou teletrabalho, há seis meses. Depois de sete dias isolado no escritório doméstico, Torquato pega um avião para dar expediente na sede da empresa, uma indústria nacional de produtos farmacêuticos.
“Sinto falta do contato direto com os colegas, do cafezinho no corredor, porque a interação é importante, mas recupero isso quando estou em Toledo”, diz Torquato, um sujeito expansivo que gosta de trabalhar em equipe. Ele conversa pelo telefone, troca mensagens pela internet e participa de frequentes videoconferências pelo Skype, uma maneira de estar presente.
“É como se eu estivesse usando um ramal interno, no mesmo prédio”, observa. A ligação é rápida e permite acesso seguro a todos os dados internos da Prati. O diretor controla o expediente quando está em casa, mas acaba trabalhando mais, porque está sempre de antena ligada para atender os colegas.
Disciplina, confiança e controle, como no caso de Torquato, são condições fundamentais para o home office. As empresas que aderem ao teletrabalho selecionam e monitoram com atenção os empregados, sempre voluntários, que aceitam trabalhar em casa. “Tem de haver confiança, pois o chefe sempre vai perguntar se o funcionário está mesmo trabalhando”, adverte a consultora Cristina Nogueira, sócia da Walking the Talk, que fundou há seis anos com Carolyn Taylor, residente em Londres. Com mais dois colaboradores nos EUA e na Austrália, a dupla é especializada em cultura de empresa e presta consultoria em três continentes, quase sempre à distância. “Posso estar num shopping e trabalhando, independentemente da diferença do fuso horário”, diz Cristina. A cada três meses, ela viaja para reuniões sobre o andamento dos negócios.
“O home office é uma tendência mundial e envolve 32,5% da população economicamente ativa, com cerca de 1 bilhão de pessoas utilizando esse método”, afirma Álvaro Melo, presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades e da International Telework Academy na América Latina. “Nossa estimativa é de que 12 milhões de brasileiros trabalham em casa”, informa.
A tecnologia facilita as tarefas dos funcionários que utilizam dispositivos móveis, acessando aplicativos pela internet. Segundo Melo, a satisfação de quem trabalha em casa é grande e, ao contrário do que se poderia prever, o sistema não está gerando processos trabalhistas. Pesquisa feita em 2014 pela SAP Consultores Associados constatou que 36% das empresas brasileiras adotam práticas de home office – 75,12% delas localizadas em São Paulo.
O consultor Carlos Eduardo Altona, da Exec – Executive Performance, que trabalha com recrutamento de executivos, atribui o crescimento do home office, entre outras causas, ao alto custo dos imóveis e à difícil mobilidade nas metrópoles. “O metro quadrado em Alphaville custa metade do preço para montar um escritório em bairros nobres de São Paulo, mas o deslocamento de Alphaville para a capital toma quase duas horas das pessoas”, observa o consultor.
Diante dessas dificuldades, é mais prático o funcionário trabalhar em casa. Contanto que se tomem certos cuidados, adverte Altona, para medir a produtividade e controlar o expediente. Mecanismos paralelos substituem o cartão de ponto tradicional para comprovar o cumprimento da jornada.
Lançado em abril como projeto-piloto, o sistema home office do Banco do Brasil começou com nove funcionários da área de tecnologia. Esse número chegará a 150 no fim do ano. Os resultados têm sido excelentes, na avaliação do diretor de Gestão de Pessoas, Carlos Netto. “Constatamos um aumento de 15% na produtividade e alto índice de satisfação entre os colegas envolvidos”, disse o diretor, já planejando a extensão do sistema a outros setores do banco.
FONTE: O ESTADO DE SÃO PAULO